domingo, 23 de maio de 2010

Ensaio sobre a lucidez


O trecho transcrito abaixo é a fala de um chefe de estado fictício, após eleição que não legitima nenhum dos partidos políticos concorrentes, além de contabilizar um enorme percentual de votos nulos.

O texto faz lembrar que o sistema capitalista é incapaz de realizar plenamente todos os direitos do ser humano, ele é incapaz de garantir a plenitude da existência. "Sejamos realistas, exijamos o impossível".


"[...] Todo o vosso sofrimento haverá sido inútil, vã toda vossa teimosia, e então compreendereis, demasiado tarde, que os direitos só o são integralmente nas palavras com que tenham sido enunciados e no pedaço de papel em que hajam sido consignados, que ele seja uma constituição, uma lei ou um regulamento qualquer, compreendereis, oxalá convencidos, que a sua aplicação desmedida, inconsiderada, convulsionaria a sociedade mais solidamente estabelecida, compreendereis, enfim que o simples senso comum ordena que os tomemos como mero símbolo daquilo que poderia ser, se fosse, e nunca como sua efectiva e possível realidade. [...]"


Livro: "Ensaio sobre a lucidez", José Saramago, Ed. Companhia das letras, 2004, pag. 96/97.

Paredes Pensantes

Pichações nas paredes de Brasília, no anos 70/80:

"Terrorista é a ditadura que mata e tortura!"

"A poesia passou por aqui"

"Sou I Brazylyensy: eis a kestão"

"As paredes tem boca!!!"

"Aos militares a forca
Aos perdedores o medo
Aos vencedores o nada"

"Esperança cadê você?"

"Esperamos por uma aurora"

"Te amo
24 horas
por segundo"

Livro: "Beije-me", Nicolas Behr (2009)

Homenagem à Brasília

BOMBA! BOMBA! BOMBA!

Brasília Parasita

versus

Braxília Trabalhadora,
Candanga e Digna

o movimento nativista
renasce e sugere
a mudança da Capital

Brasília para os braxilienses,
que amam esta cidade e
não dão vexame

MINHA PLATAFORMA POLÍTICA
CONTINUA SENDO A
PLATAFORMA DA RODOVIÁRIA!

"PELAS LANCHONETES DOS CASAIS FELIZES", Nicolas Behr (1994)

domingo, 9 de maio de 2010

Os mortos permanecem jovens



Livro: "Os mortos pemanecem jovens" - Anna Seghers, Ed. Expressão Popular, 2003.

Cap. 1 - pag. 16:


Ervin, jovem alemão, militante comunista, preso pelos corpos francos, reflete sobre a mudança do sentido da vida, após receber panfleto "subversivo", nas trincheiras da I Guerra Mundial, pouco antes de ser executado:

"Desde que recebera o panfleto, morrer passou a ter outro sentido, como se estivesse mais ligado à preocupação de continuar a viver do que à morte propriamente. Antes, a vida pesava-lhe como um fardo; somente em raras noites de domingo sentia algum prazer. O panfleto foi o primeiro apelo humano que lhe fora endereçado. Pela primeira vez, sentiu que alguém o solicitava com sofreguidão, precisava dele com urgência, de corpo e alma, alguém que não podeia viver sem ele. Antes, imaginava que só a pátria precisasse dele. Resistira obstinadamente à vergonha de poder ser desviado de suas apirações. Durante muito tempo, metade de seu coração lutou contra os pontos de vista da outra metade, embora já tivesse percebido que nenhuma relação havia entre exército, amor de mãe e torrão de natal, e muito menos com a tia, satisfeita por se ver livre dele. A pátria, tão louvada, não era o refúgio que imaginara.
Quando guardou o panfleto num boso do uniforme, sabia ter encontrado, afinal, aquilo que procurava com inquietude e inconscientemente. Viu, preto no branco, as perguntas que só lhe passavam pela cabeça como sombras de outras sombras. Por que, antes da guerra, a vida era assim e não diferente? Por que havia guerra? Por que era necessário acabar com a guerra?"

Cap. 17 - pag. 663:

Hans, militante comunista, que optou por tentar organizar grupos dissidentes no interior da Juventude Hitlerista e do exército nazista, em uma de suas licenças, revela à mãe:


"- Minha mãe, quantas vezes desejei voltar a esconder-me em teu ventre!"