domingo, 9 de maio de 2010

Os mortos permanecem jovens



Livro: "Os mortos pemanecem jovens" - Anna Seghers, Ed. Expressão Popular, 2003.

Cap. 1 - pag. 16:


Ervin, jovem alemão, militante comunista, preso pelos corpos francos, reflete sobre a mudança do sentido da vida, após receber panfleto "subversivo", nas trincheiras da I Guerra Mundial, pouco antes de ser executado:

"Desde que recebera o panfleto, morrer passou a ter outro sentido, como se estivesse mais ligado à preocupação de continuar a viver do que à morte propriamente. Antes, a vida pesava-lhe como um fardo; somente em raras noites de domingo sentia algum prazer. O panfleto foi o primeiro apelo humano que lhe fora endereçado. Pela primeira vez, sentiu que alguém o solicitava com sofreguidão, precisava dele com urgência, de corpo e alma, alguém que não podeia viver sem ele. Antes, imaginava que só a pátria precisasse dele. Resistira obstinadamente à vergonha de poder ser desviado de suas apirações. Durante muito tempo, metade de seu coração lutou contra os pontos de vista da outra metade, embora já tivesse percebido que nenhuma relação havia entre exército, amor de mãe e torrão de natal, e muito menos com a tia, satisfeita por se ver livre dele. A pátria, tão louvada, não era o refúgio que imaginara.
Quando guardou o panfleto num boso do uniforme, sabia ter encontrado, afinal, aquilo que procurava com inquietude e inconscientemente. Viu, preto no branco, as perguntas que só lhe passavam pela cabeça como sombras de outras sombras. Por que, antes da guerra, a vida era assim e não diferente? Por que havia guerra? Por que era necessário acabar com a guerra?"

Cap. 17 - pag. 663:

Hans, militante comunista, que optou por tentar organizar grupos dissidentes no interior da Juventude Hitlerista e do exército nazista, em uma de suas licenças, revela à mãe:


"- Minha mãe, quantas vezes desejei voltar a esconder-me em teu ventre!"

Um comentário: